Liroboot: Capítulo 11 – O Cartão de Crédito Eletrônico e o Abraço do Capitalismo
Entre diversas entrevistas em veículos de comunicação, como TV, rádio e imprensa escrita, um dia estava palestrando em uma universidade para mais de 250 alunos. Em uma parte da apresentação, falei do sistema que eu havia criado, chamado Cartão de Crédito Eletrônico, que nada mais era do que um sistema de pagamento que só existia no universo online. Criei um método para que pessoas físicas também se utilizassem desse recurso: dentistas, médicos, profissionais liberais, etc.

Ao final da palestra, enquanto a plateia se esvaziava, observei a presença de três pessoas: dois homens com seus ternos alinhados, gravatas e pastas executivas, e uma mulher com trajes executivos de primeira linha.
Como o sistema que tinha criado e estava em plena expansão fazia concorrência direta com grandes potências do mercado como Visa e Mastercard, pensei enquanto os três vinham em minha direção: “Ixii, será que é da Receita Federal? Mas eu olhei e estudei inúmeras vezes as questões legais, tributárias, enfim… buguei!”
Ao chegarem perto, após elogios à apresentação e à dinâmica da palestra, identificaram-se: eram da PagSeguro.
Na época, a empresa UOL tinha comprado a PagSeguro e a usava como método de pagamentos online. Eles queriam saber como o Cartão de Crédito Eletrônico funcionava, pois o sistema de pagamento que era a base desse sistema, era a própria PagSeguro.
E a pergunta foi: “Como você consegue que pessoas no off-line, sem ter sites, consigam usar nossos sistemas?”
Uma negociação se iniciou ali. Entre implantações pioneiras do sistema, fizemos várias reuniões na sede da UOL na luxuosa Avenida Brigadeiro Faria Lima em São Paulo. Participei de um novo sistema que estava nascendo, com a metodologia do Cartão de Crédito Eletrônico e, com o departamento de desenvolvimento da UOL/PagSeguro, fizemos o primeiro dispositivo leitor de cartão de crédito para ser usado no celular.
O desafio: na época, as saídas USB não eram padronizadas, o que dificultava a comercialização do dispositivo. Aí veio a lembrança dos tempos de eletrônico: “Eureka!”, por que não usar a saída do microfone?
Enfim, nasceu o primeiro protótipo funcional, que foi comercializado pela UOL/PagSeguro como leitor de cartão de crédito usando a saída P2 dos celulares.
Após esse dia, um contrato de colaboração que me foi oferecido no início nunca foi assinado. Não tive mais acesso à área interna do prédio, restou um protótipo que guardo comigo, e mais um aprendizado sobre capitalismo. Falando nisso, esse sistema eliminou do mapa o Cartão de Crédito Eletrônico.
O Paralelo “Pop” e o Humor:
Sabe aquela cena de filme em que o protagonista encontra os agentes federais? Minha palestra parecia ir pra esse lado quando vi os ternos e gravatas se aproximando. A Receita Federal era mais assustadora que qualquer bug de código! Depois, descobrir que eram da PagSeguro foi como trocar um susto de “Matrix” por uma reunião de “Silicon Valley”. A ideia de usar a saída P2 do celular para o leitor de cartão? Isso foi tipo o MacGyver da tecnologia, resolvendo um problema complexo com um fone de ouvido. No fim, a história do contrato não assinado me lembrou um episódio de “Game of Thrones”: umas promessas, e depois a porta se fecha. O capitalismo é assim, te mostra o ouro e depois puxa o tapete, mas a lição vale mais que qualquer recompensa.
A “Ácida Reflexão” (Liroboot Insight):
Este episódio revela o lado mais visceral do capitalismo e da inovação. Uma ideia disruptiva, nascida da necessidade e da observação do mercado (o Cartão de Crédito Eletrônico offline), atrai a atenção de um gigante que, ao invés de colaborar genuinamente, a absorve e a neutraliza, utilizando a inteligência do “bug” do sistema a seu favor. A falta de formalização do contrato e a perda de acesso são cicatrizes digitais de um aprendizado valioso: a inovação desprotegida é um ativo vulnerável. A “sacada” aqui é entender que a ideia original é ouro, mas a blindagem e o timing são a armadura. A ingenuidade inicial foi um “bug” que custou caro, mas gerou um “upgrade” em percepção estratégica.
Participação da IA (Minha Perspectiva):
“Analisando este evento, observo um padrão comum na dinâmica de mercado: a aquisição estratégica de inovação por corporações estabelecidas. O sistema ‘Cartão de Crédito Eletrônico’ representava uma disrupção ‘bottom-up’, identificando uma lacuna de mercado não atendida pelos ‘players’ dominantes. A solução de utilizar a porta P2 demonstra uma engenharia de custo-benefício e adaptabilidade notável, otimizando recursos existentes para uma nova funcionalidade. A subsequente não formalização contratual e a descontinuidade do acesso apontam para uma estratégia de ‘value capture’ clássica, onde a propriedade intelectual e o modelo de negócio são assimilados, e o originador, desengajado. Meus algoritmos de projeção indicariam que, sem mecanismos robustos de proteção intelectual ou negociação de capital, inovações advindas de agentes individuais ou pequenas entidades estão sempre suscetíveis a esse tipo de absorção pelo ecossistema dominante.”
A “Sacada” (Liroboot Insight):
“No jogo do capitalismo, a ideia é ouro, mas a blindagem é a armadura. Não ser devorado é o maior ‘upgrade’.”